A Morte

16.5.07




Viva e de boa saúde mas com sepultura pronta
Amadeu Araújo, Viseu
Diário de Notícias, 16 de Maio de 2007

Palmira Correia, uma mulher de 76 anos, residente em Penalva de Alva, no concelho de Oliveira do Hospital, construiu e adornou no cemitério local a sua própria campa, como se ela própria estivesse lá sepultada. Como está viva e de boa saúde, a solução foi aproveitar o "investimento" para enterrar a irmã.
A mulher, natural de Souto de S. Gião, "toda a vida foi uma solteirona até que casou com Joaquim Correia um senhor viúvo com três filhos que a levou para Penalva", refere Maria Helena, que reside na Carvalha e conhece bem Palmira. Nessa altura, relata, "Palmira, já tinha amealhado uns trocos e dispunha de muitas terras que herdou dos pais." Quando o marido morreu, em 1988, Palmira ficou de novo sozinha, apenas com uma das duas irmãs. É nesta altura que compra dois pedaços de terreno no cemitério: um onde sepultou o marido e outro para si própria.
Com a vida de novo desfeita, Palmira apega-se à terra e regressa à Carvalha para uma quinta que já tinha antes do casamento. É aqui que vive actualmente, quase como uma eremita. "Da quinta ela só sai aos sábados, para comprar o pão e a fruta", relata Maria Helena.
Mas "foi quando a solidão a acometeu que colocou uma campa no seu terreno, com fotografia e inscrição: 'À memória de Dª Palmira Celeste Barbas Correia. Paz à sua alma', tudo porque julgava que, na hora da sua morte, ninguém se lembrasse dela e nem uma campa lhe colocassem", conta Alice Pereira, uma "amiga antiga", como diz a própria.
Com a campa instalada, mas sem data de nascimento e de falecimento, o povo começou a falar. O tempo encarregou-se de esbater o mármore branco da campa de Palmira onde nem as flores faltavam. Conta o povo que já antes da morte da irmã, a proprietária da campa colocava flores na sua própria sepultura.
Se não faltavam as flores, faltava a defunta. Até 2003, altura em que morre a última irmã viva de Palmira, que acaba por ocupar a sua última morada. Provisoriamente. A lápide com o nome de Palmira continua no local e é aqui que a mulher conta ser sepultada.

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